Bem, a TV brasileira está completando 70 anos de existência, então achei apropriado fazer um balanço da minha relação com este eletrodoméstico que é ao mesmo tempo uma janela para o mundo, e que, sem sombra de dúvida influiu na minha formação, assim como na de todos, é claro. De uma certa forma, somos todos influenciados pela televisão. Nosso comportamento, nossa visão de mundo, foi muito moldada pelo que ela nos trazia, pelo que ela nos mostrava, nos apresentava, incluía no nosso cotidiano. Boa parte da rotina de nossas casas era dirigida pelos horarios de certos programas de televisão. Às vezes deixávamos de ir a festas ou a qualquer outro compromisso para não perdermos tal programa, ficávamos tristes quando não podíamos assistir a esse ou aquele programa. Enfim, a TV sempre teve uma importância enorme em nossas vidas.
Eu nasci em 1974, portanto, minha história com a TV começa aí, e pessoas mais velhas da minha família dizem que durante a abertura de uma novela da TV Globo chamada 'Bravo', em que aparecia um maestro conduzindo uma orquestra, eu o imitava, parado na frente do aparelho. Bem, é claro que não me lembro disso, até porque a novela é de 1975, portanto eu devia ter apenas 1 ano de idade.
Ao longo do tempo meu fascínio ela televisão só aumentou, assistia a quase tudo, só não via mais porque crianças (pelo menos naquela época) tinham que dormir cedo, e sempre chegava aquela hora em que minha mãe me mandava pra cama.
Eu via não só os programas infantis e os desenhos mas também novelas, shows de auditório (que eu adorava, meus ídolos maiores eram Sílvio Santos, Chacrinha e Flávio Cavalcanti - mas também gostava de Raul Gil, Dárcio Campos, Bolinha, J. Silvestre, Hebe Camargo).
Durante a década de 80 minha 'loucura' pela televisão era tão grande que eu copiava num caderno as programações diárias das emissoras que saíam publicadas nos jornais. Pra quê? Não sei. Simplesmente achava divertido fazer isso.
Outra coisa que me divertia era brincar 'de Chacrinha' e de 'de Sílvio Santos'. Isso mesmo, assim como garotos 'normais' brincavam de 'Super-Homem' e 'Batman', eu reproduzia o programa do Chacrinha inteiro na sala de casa. E com um microfone improvisado pelo meu pai, pendurado no peito, 'igual' aos dos animadores de TV.
Também gostava muito de desenhar o Chacrinha, eu tinha cadernos inteiros com desenhos dele, com as fantasias usadas em cada programa, com data e indicação de quem havia se apresentado 'por último', ou seja, fechado o programa naquele dia. Coisa de doido.
Aliás, sábado à tarde, eu não saía pra lugar nenhum, era hora do Chacrinha! Assim como, domingo era dia de Sílvio Santos! Eu detestava quando minha mãe inventava de irmos fazer algum passeio ou irmos para o campo. Pô, eu ia perder o 'Qual é a Música'!
A propósito, a estreia do Chacrinha na Globo, em 1982, foi um dos grandes traumas da minha vida. Eu já acompanhava o Velho Guerreiro desde o final da década de 70, na extinta TV Tupi, depois na TV Bandeirantes, e quando ele foi pra Globo, aquilo virou o acontecimento do ano, pelo menos pra mim, que tinha 8 anos de idade. Portanto, a expectativa pelo primeiro programa era enorme, eu mal podia esperar pra chegar o 'grande dia'.
Antes, devo explicar que eu morava numa cidade do interior, e que o sinal das emissoras era retransmitido em UHF, a partir do sinal que vinha da capital, São Paulo, e só pegavam três emissoras, Globo, Record e Bandeirantes (a TV Cultura pegava também, mas porque tinha uma antena própria, que, aliás, ficava ao lado da minha casa). Às vezes, como o equipamento era em cima de um morro, quando chovia ou ventava forte, alguma coisa acontecia que fazia o sinal cair. Pois adivinhem o que aconteceu bem no dia da tão esperada estreia do Chacrinha na Globo? Isso mesmo. Ela saiu do ar! Bem no dia mais importante do ano pra mim. Fiquei com tanta raiva que me tranquei no banheiro e chorei imprecando contra Deus e o mundo. Aliás, naquele dia, eu tive a nítida impressão de que Deus estava contra a minha pessoa.
Outra pessoa de que eu gostava muito na década de 80 era o Gugu Liberato. Como já disse, o SBT não pegava na nossa cidade, mas eu estava sempre ligado em tudo que dizia respeito à 'TV do Sílvio Santos'. E quando chegavam as férias escolares, ao invés de ir pra praia ou pra acampamentos, eu ficava enchendo o saco dos meus pais pra ir pra São Paulo, na casa de parentes, só pra poder assistir ao SBT (ou 'TVS', como se dizia). E quando lá estava eu assistia de tudo, 'Bozo', novelas mexicanas, os seriados, e principalmente ao 'Viva a Noite', de Augusto Liberato. Eu gostava muito dele nessa época principalmente porque ele tinha um estilo totalmente distinto do 'mestre Sílvio', a postura dele era discreta no palco, a entonação não era impostada, mas seu carisma era tanto que conseguia comandar aquele auditório lotado sem agir como se fosse um domador de circo.
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Criador e criatura |
Eu adorava também musicais como 'Globo de Ouro', 'Geração 80', 'Cometa Loucura', 'Mixto Quente', 'Chico & Caetano', 'Som Brasil' (todos da Globo), programas de vídeoclips como 'Clip Clip (Globo), 'Super Special' (Bandeirantes), 'BB Videoclip' (Record), 'Som Pop' (apresentado pelo cantor Ronaldo Resedá, na Cultura). Aliás, os programas da TV Cultura também me marcaram muito. O infantil 'Bambalalão', a que assistia todos os dias, com o palhaço 'Tic-Tac' (Marilan Sales), a linda Gigi Anhelli, e o 'Prof. Parapopó (Chiquinho Brandão). Vejam que esse programa me marcou tanto que até hoje eu me lembro do nome não só dos personagens como também dos atores que os interpretavam!
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O inesquecível 'Bambalalão' |
Outros programas da Cultura a que eu assistia sempre, 'A Fábrica do Som', apresentado pelo Tadeu Jungle, em que as bandas tocavam ao vivo, várias delas, anos depois fariam muito sucesso (Paralamas, Ultraje, Ira!, Capital Inicial, Titãs, etc.), 'Quem Sabe, Sabe!', em que colégios competiam respondendo perguntas de conhecimentos gerais, apresentado pelo Walmor Chagas, 'É Proibido Colar', outra competição entre escolas, esta com várias 'tarefas' que deveriam ser apresentadas no programa, a apresentação era de Antônio Fagundes e Clarisse Abujamra.
Além, é claro das novelas da Globo. Assisti a várias, nem sempre diariamente, às vezes eu me desinteressava, mas novelas como 'Guerra dos Sexos', de Silvio de Abreu, 'Roque Santeiro', de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, 'Vale Tudo', de Gilberto Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva, as novelas de Cassiano Gabus Mendes, novelas de Ivani Ribeiro ('Final Feliz', 'Amor Com Amor Se Paga', A Gata Comeu'), de Walther Negrão ('Livre Para Voar','Pão Pão Beijo Beijo', 'Top Model'), foram marcantes (um dia faço uma postagem só sobre minhas novelas favoritas).
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'Roque Santeiro' e 'Guerra dos Sexos' |
Adorava os humorísticos também, 'Viva o Gordo', 'Chico Anysio Show', e uma série de programas que a Globo levou ao ar aos domingos, no horário das 18 horas, 'O Planeta dos Homens', 'Balança Mas Não Cai', 'Humor Livre'. Gostava muito de Agildo Ribeiro, que depois de ter seu próprio programa na Globo ("Estúdio A-Gildo'), foi pra Bandeirantes, onde estrelou o muito elogiado 'Agildo No País das Maravilhas'.
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Jô e Chico, gênios do humor |
Mas a grande 'descoberta' humorística pra mim foi Ronald Golias, que voltava a televisão depois de muitos anos afastado, no programa 'Bronco', da TV Bandeirantes. Ele era feito no mesmo estilo de outro em que Golias brihara na década de 60, 'A Família Trapo'. Como eu não havia nascido na época do programa, pra mim, aquilo tudo era uma grande novidade.
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Ronald Golias |
Assim como a 'Praça Brasil', também na Bandeirantes, comandada por Carlos Alberto de Nóbrega. Apesar de vários humoristas dali já terem feito parte de outros programas de humor, aquele esquema em que eles se sucediam contracenando com Nóbrega, sentado num banco de praça (outra reedição de um sucesso dos anos 60), também era algo totalmente novo pra mim.
A 'nova Praça' deu tão certo que uma semana depois de ter estreado, foi levada para o SBT, por Sílvio Santos (com Nóbrega e o elenco quase todo). O que me decepcionou um pouco, pois o SBT ainda não pegava na minha cidade. E já estávamos em 1987. Mas esse problema seria, graças aos céus, resolvido. Alguma boa alma resolveu colocar o sinal da emissora de Sílvio pra ser retransmitido junto das outras que já pegavam. Que maravilha! Finalmente meu grande sonho se tornara realidade!
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Anúncio da estreia da 'Praça É Nossa' |
Outra emissora que começou a pegar na minha cidade nesse ano de 87 foi a TV Manchete, que já estava no ar desde 1983. A Manchete havia começado com uma proposta de programação diferente, de mais 'alto nível', apostando no jornalismo (seu telejornal noturno tinha uma hora e meia de duração), em documentários como 'Xingu', programas de música clássica em horário nobre, especiais sobre grandes nomes da música brasileira, sua teledramaturgia roubou vários profissionais da Globo (atores e diretores), inovou na transmissão do Desfile das Escolas de Samba, revelou Xuxa como apresentadora infantil, mas nada disso refletia necessariamente em audiência. Portanto, aos poucos, a emissora foi se rendendo ao gosto popular, e só conseguiu emplacar no ibope, e derrotar a própria Globo, em 1990, com a novela 'Pantanal', de Benedito Ruy Barbosa.
Outro grande acontecimento do ano de 1987 foi o anúncio que Sílvio Santos fez no telejornal 'Noticentro', a que por puro acaso eu assisti. Ele anunciou, orgulhoso, a contratação de Jô Soares para o SBT. 'O queeee???' Meu Deus, aquilo era uma bomba. Não existia a menor indicação de que Jô sairia da Globo. Pois saiu. Portanto, não haveria mais 'Viva o Gordo' nas noites de segunda, em que a gente assistia comendo as pipocas que minha mãe estourava.
Bem, no ano seguinte, Jô estreou no SBT com o mesmo programa de humor, mas com outro nome, 'Veja o Gordo'. E a Globo? A Globo criou uma sessão de cinema que existe até hoje, 'Tela Quente', com 'blockbusters' pra enfrentar o programa de Jô. E deu certo? Logo que sim. Bem na estreia, a Globo mandou o 'Retorno de Jedi'. Adivinha o que foi que eu assisti nesse dia.
Mas o real motivo de Jô ter saído da Globo era a possibilidade de fazer no SBT o que ele realmente queria há muito tempo, um programa de entrevistas no estilo 'late show', uma tradição da TV americana. E assim ele o fez. No mesmo ano estreou o 'Jô Soares Onze e Meia' (que curiosamente não começava às 'onze e meia', estava sempre atrasado), que, pode-se dizer, revolucionou a TV brasileira. Logo, outras pessoas também queriam ter o seu 'late show'. Claro, que sem o mesmo sucesso de Jô. O 'Onze e meia' foi um marco na televisão do Brasil, deixou entrevistas históricas, e marcou época durante a campanha à Presidência da República de 1989. E como eu estudava de manhã e tinha que acordar cedo, eu deixava gravando no videocassete pra assistir no dia seguinte.
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'Jô Soares Onze e Meia' |
Outro programa que revolucionou foi o humorístico 'TV Pirata', que estreou na Globo em 1988. A proposta era fazer um tipo de humor totalmente diferente do costumeiro. Com personagens sem bordões, esquetes que não se repetiriam, sem risadas gravadas ( a 'claque'), escrito por um time de roteiristas que iam do pessoal das publicações alternativas 'Casseta Popular' e 'Planeta Diário', a nomes conhecidos como Luis Fernando Veríssimo, Miguel Paiva e os cartunistas Angeli, Glauco e Laerte. Tudo interpretado na tela não por humorístas 'profissionais', mas por atores como Ney Latorraca, Marco Nanini, Débora Bloch, Regina Casé, Diogo Vilela, Cristina Pereira, Luis Fernando Guimarães, Louise Cardoso, Claudia Raia e Guilherme Karam. O programa foi bem recebido pela crítica mas nem tanto pelo público (nem pelos humoristas 'tradicionais', que de vez em quando, destilavam algum 'veneno' a ele).
Eu adorava o 'TV Pirata', não perdia um programa, sempre gostei desses projetos inovadores, e achava ótimo que emissoras como a 'poderosa' Globo, tivesse a coragem de por no ar um produto tão radical. Aliás, até mesmo hoje em dia, o programa tem uma radicalidade que se fosse apresentada daquela forma, levaria o público ao estranhamento.
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O elenco do 'TV Pirata' |
Mesmo controverso, o programa durou até 1992, teve várias trocas no elenco por conta das novelas da emissora, entraram Maria Zilda, Pedro Paulo Rangel, Otávio Augusto, Antonio Calloni, Denise Fraga. Mas mesmo depois do fim do programa, aquele tipo de humor se consolidou na emissora nos anos 90, através de outros como 'Programa de Auditório', Programa Legal', 'Brasil Legal', Casseta & Planeta Urgente' e 'Comédia da Vida Privada'.
Mas não há como falar de humor sem mencionar 'Os Trapalhões'. Se você foi criança durante a década de 80, certamente era fã dos Trapalhões, e não perdia um programa, todos os domingos, às 19 horas. Aquele tema de abertura inconfundível virou um ícone pra uma geração. Entre meus amigos de escola, na segunda-feira, o assunto era um só: 'Você viu os Trapalhões ontem?' Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias cativaram o país todo não só com o show de TV, mas também com os inúmeros filmes que fizeram. Além dos vários bordões criados e eternizados por Renato Aragão, o Didi ('Ô da poltrona!', 'Ô pisit!", 'Muuuuito macho!").
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'Ô da poltorna!' |
Até agora só mencionei os 'figurões' do humor televisivo (Jô, Chico, Agildo, Golias, Trapalhões) mas boa parte do sucesso desses humorístas e de seus programas não existiria sem os coadjuvantes, humoristas cujos personagens caíam nas graças do povo, mesmo se os nomes de quem os interpretavam nunca fossem lembrados. Talentos que passaram por vários programas como Rony Rios (a 'Velha Surda', o 'Explicadinho' ), Tutuca, Brandão Filho, Ary Leite, Carlos Leite, Maria Teresa, Geraldo Alves, Simplício, Moacyr Franco, Berta Loran, Orival Pessini, Paulo Silvino, Eliézer Motta, Paulo Celestino (o pai e o filho), Alexandre Braz, Zilda Cardoso, Nhô Moraes, Teobaldo, Jorge Lafond, Tião Macalé, Canarinho, Dino Santana, Roberto Guilherme, Carlos Kurt, Nair Belo, Costinha, Lúcio Mauro, Claudia Gimenez, Walter D'Ávila, Zezé Macedo, José Santa Cruz, Sônia Mamede, Álvaro Aguiar, Marcos Plonka, e muitos outros.
Aliás, mencionei Moacyr Franco, e quase ia me esquecendo. Moacyr fazia um programa na Bandeirantes, no início da década de 80, que eu adorava, o 'Moacyr Franco Show'. Era aos sábados à noite, e o que eu mais gostava nele eram os esquetes de humor nonsense feitos junto com o grupo 'humorístico-musical', 'Os 3 do Rio'. Depois, Sílvio Santos levou o programa pra o recém-inaugurado SBT, o que me decepcionou muito pois, como já falei, a emissora não pegava na minha cidade. Mais tarde, Moacyr substituiu Carlos Alberto de Nóbrega, quando este deixou o 'Praça Brasil', mas acabou juntando-se a ele, e ao elenco da 'Praça é Nossa' interpretando um personagem que fizera muito sucesso na década de 60, o 'Mendigo', além de outro, também ilário, o 'Jeca Gay'.
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O 'showman' Moacyr Franco |
Falando em sábado á noite, impossível não lembrar de outro programa que revolucionou a TV, o 'Perdidos na Noite', apresentado por Fausto Silva, primeiro na TV Gazeta, depois na Record, e finalmente na Bandeirantes. O 'Perdidos' foi um marco não só por ter revelado 'Faustão', mas por ser literalmente uma 'bagunça'. Com cenários improvisados, a falta de verba usada como motor de criatividade, uma linguagem sem empostações por parte do apresentador, os esquetes de humor meio 'toscos' feitos no palco pelos humoristas, Carlos Roberto 'Escova' e Nelson 'Tatá' Alexandre, que geralmente caiam na risada enquanto faziam suas imitações (às vezes o próprio Fausto interrompia as performances pedindo pra que eles fizessem outras vozes, bagunçando ainda mais a coisa toda).
O Teatro Zaccaro, onde era gravado o programa, estava sempre lotado, de um público que não só ia lá para assistir mas também acabava participando, levando faixas pra serem lidas por Fausto ao longo do programa. E quase todos os grandes nomes da música brasileira passaram por lá, várias bandas de rock tocando ao vivo (o que, na época, não era comum), cantores brega, enfim, o 'Perdidos' era uma grande balbúrdia, uma bagunça organizada em que cabia todo mundo, e a expressão era livre. Um clima que tinha tudo a ver com aqueles tempos de redemocratização brasileira, a 'Nova República'.
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Faustão no 'Perdidos' |
O sucesso de Fausto (sem trocadilho) foi tão grande que, ainda na Bandeirantes, ele apresentou um programa mais, digamos, 'sério'. Idealizado pelo diretor Augusto César Vanucci, o 'Safenados & Safadinhos' pretendia unir gerações através de performances artísticas. Ali, Faustão tinha um tom mais 'comedido', já que o programa não era, como ele dizia, estilo 'baixaria'. Eu não gostava, achava meio chato e 'careta'.
Uma coisa que eu não disse, foi que quem levou Fausto Silva para a TV foi um grande jornalista, também marcante na década de 80, Goulart de Andrade. A origem do 'Perdidos' foi um programa da antiga Rádio Globo AM chamado 'Balancê', que ia ao ar diariamente ao meio-dia. Ele já era naquele estilo 'Perdidos', com auditório, imitações, bagunça, etc. Um dia, Goulart foi entrevistado nesse programa, e disse a Fausto e á produtora, Lucimara Parisi: 'Isto aqui é um programa de televisão'. Pronto, logo o 'Perdidos' estrearia na TV Gazeta, no horário que Goulart arrendara na emissora. Quando este foi pra Record, o 'Perdidos' foi junto, assim como quando Goulart estreou na Bandeirantes.
Em 1989, Fausto foi contratado pela Globo, e então estreou o 'Domingão do Faustão'. Idealizado para competir com Sílvio Santos, o programa mudou bastante ao longo dos anos. No começo eu gostava, mas depois acabei me afastando, por razões que direi daqui a pouco.
Mas, era sobre Goulart de Andrade que eu queria falar. Ele já tinha algumas décadas de jornalismo quando começou a se destacar nas madrugadas da Globo, de sábado pra domingo, apresentando reportagens sobre a noite de São Paulo, nos intervalos dos filmes que a emissora exibia no horário. Essas inserções eram chamadas de 'Comando da Madrugada'. Mais tarde, Goulart revelaria o motivo de suas matérias serem todas noturnas. Era porque o departamento de jornalismo da Globo só liberava equipamento pra ele depois da meia-noite.
As matérias de Goulart faziam sucesso, mas ele não queria ficar apenas falando sobre a noite, portanto acabou saindo da Globo e indo para a TV Gazeta, em esquema de co-produção. Ali, como ele era o responsável pelo conteúdo, podia apresentar qualquer coisa. E nisso, acabou colocando no ar um programa todo feito com jovens que mais tarde fariam a produtora 'Olhar Eletrônico' (Fernando Meirelles, Marcelo Tas, Marcelo Machado e outros). Depois ele acabou indo para a Record, apresentando o 'Programa Goulart de Andrade', aos sábados de madrugada (de novo).
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Goulart de Andrade |
Foi aí que eu o conheci. Suas matérias logo me chamaram a atenção pois eram totalmente diferentes das reportagens convencionais, vistas nos telejornais, por exemplo. Quase não tinham edição, o câmera o seguia pelos lugares, as pessoas eram apresentadas de uma forma muito livre, e com esse estilo ele podia mostrar aspectos dos assuntos que passavam batido numa reportagem 'normal'. Esse era o grande charme do seu trabalho. Depois da Record, Goulart esteve na Bandeirantes e no SBT, e no final da vida voltaria para a Gazeta, trabalhando com jovens estudantes de comunicação.
Falando em jornalismo, quando criança eu não me ligava muito em telejornais, a não ser pra prestar atenção aos cenários (coisa que me interessava muito na época, os cenários dos programas de TV), mas quase sempre dava uma olhada no 'Jornal Nacional' (ainda apresentado por Cid Moreira e Celso Freitas - e mais tarde, Sergio Chapelin), no 'Jornal Bandeirantes' (apresentado pela voz marcante de Ferreira Martins, e por Joelmir Betting), o 'Jornal da Manchete 1ª Edição' (com Carlos Bianchini e Ronaldo Rosas), e o 'Noticentro', do SBT (não me lembro do nome do apresentador).
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Cid Moreira e Celso freitas no 'JN' |
Mas, em 1987, o SBT inovou lançando o 'Telejornal Brasil', o primeiro telejornal diário feito por um anchorman, como era conhecido nos EUA. Um âncora, ou seja, alguém que não era apenas um apresentador, mas que também atuava como editor-chefe do jornal, ele era quem, digamos, 'sustentava' aquilo que seria mostrado, ele se responsabilizava pelo que era noticiado, por isso o nome 'âncora'. E este primeiro 'âncora' da TV brasileira foi o veterano jornalista Boris Casoy. Ele já tinha vasta experiência no jornalismo impresso, principalmente na Folha de S. Paulo, inclusive em cargo de chefia de redação. Mas aquela seria a sua estreia como apresentador, nunca trabalhara na TV, apenas participara de debates eleitorais. Apesar disso, ele destacou-se na nova posição. Pela primeira vez, um apresentador de telejornais dava suas opiniões sobre as notícias. E quando algum dos fatos era 'escabroso' demais, um caso de corrupção, por exemplo, Casoy soltava, o que acabou se tornando um bordão que chegou às ruas: 'É uma vegonha!'
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Boris Casoy no 'TJ Brasil' |
Falando em telejornalismo, não posso deixar de mencionar o 'Fantástico, O Show da Vida', tão tradicional nas noites de domingo quanto os 'Trapalhões'. Aliás, esses dois programas fizeram uma combinaçao imbatível na audiência durante toda a década de 80. O 'Fantástico' já estava no ar desde os anos 70, e manteve sua relevância baseada em periódicas mudanças no estilo visual do programa. Era uma espécie de 'combo', com todas as estrelas da Globo juntas, as do entretenimento e as do jornalismo, apresentando matérias especiais, e atrações musicais, com videoclipes feitos especialmente pelo programa. Além dos videoclipes internacionais também, foi nele a estreia nacional do clipe 'Thriller', de Michael Jackson.
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Sérgio Chapelin, um dos apresentadores do 'Fantástico' |
Ainda no campo do jornalismo/entretenimento, existem certas pessoas que passaram por várias emissoras durante a década de 80, e suas figuras sempre surgem na memória quando se fala dessa época. Uma delas é Marília Gabriela. Marília havia começado na Globo, nos anos 70 mas consolidou seu trabalho, na década seguinte, apresentando o 'TV Mulher', programa matinal com temática feminina, tratava de vários assuntos ainda considerados ‘tabu’, como menstruação, o prazer feminino, além de moda, forma física etc. Marília fez tanto sucesso no programa que ficou maior que ele.
Acabou indo para a Bandeirantes pra apresentar um programa só seu, ‘Marília Gabi Gabriela’, às quartas à noite. Nele fazia uma mistura interessante de entrevistas com gente do mundo político e do entretenimento. O cenário era dividido em várias partes, cada uma para um quadro do programa. Num deles algum famoso preparava um prato ao vivo, em outro o convidado cantava num karaokê (geralmente era engraçado quando políticos iam participar dele). Apesar de interessante, o programa não foi um sucesso de audiência, mas Marília se manteve no ar por muitos anos, em outros programas.
Um deles também marcou época, o ‘Cara a Cara’, num formato inovador, em que ela ficava bem de frente para o entrevistado, sem cenários, as câmeras num plano e contra-plano que dava um clima bem íntimo e incisivo à conversa. Algumas entrevistas foram históricas, como a do cantor Cazuza, que nele, assumiu publicamente que tinha o vírus da AIDS.
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Gabi no 'TV Mulher' |
Outra pessoa constante no vídeo nessa época foi Clodovil Hernandez. Clodovil começou a chamar atenção na década de 60, com seu trabalho como estilista, logo virou participante de inúmeros programas de TV. Sua participação no mesmo 'TV Mulher' era falando sobre moda. Mas, assim como ocorreu com Marília, Clodovil também tinha capacidade (e vontade) para ter um programa só seu. E assim, aconteceu. Antes de Marília, Clodovil deixou a Globo e foi para a Bandeirantes apresentar um show nas noites de segunda.
O programa, que chamava-se apenas 'Clodovil', era muito estiloso, e devia custar 'os tubos' pra emissora. Tinha bailarinos, números musicais, e o mesmo quadro que Clodovil fazia no 'TV Mulher' dando dicas de moda. Talvez por ser tão caro não tenha durado muito. Clodovil foi para a Manchete, onde em 1985 estreou um programa vespertino chamado 'Clô Para os Ínitimos', em que entrevistava várias personalidades. No estúdio havia uma pequena plateia, composta em sua maioria por senhoras admiradoras do estilista.
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Clodovil Hernandez |
Clodovil nunca parou muito tempo numa emissora, geralmente se desentendia com a direção do canal, ou com outro profissional que trabalhasse com ele (o que ocorreu com Marília Gabriela), mas 'vira e mexe' estava de volta à TV.
Quem também marcou época na década de 80 foi Marcelo Tas. Marcelo começou na produtora 'Olhar Eletrônico', já mencionada, que chegara à TV pelas mãos de Goulart de Andrade. Em meados da década, a Editora Abril resolveu investir em televisão. Criou a 'Abril Vídeo', que associada à TV Gazeta, pôs no ar programas jornalisticos que fugiam ao padrão da época ('Crig Rá', 'Olho Mágico'), e todos eles eram feitos pelo pessoal da 'Olhar Eletrônico'. Uma das grandes sacadas de Marcelo foi criar um personagem, o repórter 'Ernesto Varela'. Um sujeito meio tímido, desajeitado, que acabava fazendo as perguntas mais incômodas por conta dessa sua suposta 'ingenuidade'.
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Varela em ação |
'Varela' entrevistou várias personalidades, principalmente políticos, sua atuação na época esteve ligada ao momento político que o país vivia, com a possibilidade da eleição direta para a Presidência da República (que acabou não acontecendo). Como a Gazeta não pegava na minha cidade, eu não podia acompanhar tudo isso mas sempre ficava inteirado das inovações da 'Olhar'. E logo, Marcelo iria para a Record, cobrir a Copa do Mundo do México, em 1986, e depois passaria por literalmente todas as emissoras de TV nas décadas seguintes.
Bem, quase ia me esquecendo de falar sobre um programa da Globo, que pra mim, era imperdível, o 'Armação Ilimitada'. Era uma série mensal, que fazia parte do 'Sexta Super', em que toda semana ia ao ar um programa diferente ('Globo de Ouro', 'Grandes Nomes', 'Chico & Caetano').
O 'Armação' foi uma revolução na teledramaturgia brasileira. Com uma edição ágil, uma linguagem direta com o público jovem, cada episódio contava uma história diferente, tendo por protagonistas o triângulo amoroso entre 'Juba' (Kadu Moliterno), 'Lula' (André Di Biasi), e 'Zelda Scott' (a linda Andrea Beltrão, por quem me apaixonei perdidamente). Além, do pequeno 'Bacana' (Jonas Mello) e a gorda e sexy 'Ronalda' (Catarina Abdala).
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O 'Triângulo de bermudas' |
Seria injusto falar da TV nos anos 80, sem tocar no nome de Xuxa Meneghel. Essa mulher se tornou um dos maiores sucessos da televisão apresentando programas infantis. O diferencial de Xuxa como apresentadora era que não tratava as crianças, no seu programa, de uma forma 'tatibitai', ou 'maternal'. A figura dela era como a de uma amiguinha da mesma idade, ela falava com a criançada sem 'frescura', isso cativou o público infantil de tal jeito (apesar de gerar muitos mal-entendidos), além da beleza encantadora, que a transformou num fenômeno, primeiro de televisão, depois do disco, e até mesmo no cinema. Nada mal para alguém que antes de iniciar nessa carreira era apenas conhecida como a 'namorada do Pelé'. Xuxa começou na TV Manchete, no 'Clube da Criança', mas três anos depois já estreava na Globo o seu 'Xou da Xuxa'. Quando isso aconteceu, em 1986, eu tinha 12 anos de idade (um pré-adolescente), ou seja, eu era louco por ela. Principalmente quando aparecia com aqueles figurinos curtíssimos (rs).
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Bons tempos |
Em 1987, uma bomba caiu no mundo do entretenimento. A Globo anunciava a contratação de Gugu Liberato. Ele sairia do SBT depois de seis anos apresentando o 'Viva a Noite', para fazer um programa dominical competindo com seu mentor, Sílvio Santos. Meses depois, outra bomba. Gugu não iria mais pra Globo. Resolvera ficar na antiga emissora cedendo a um pedido pessoal de Sílvio que chegou a ir até o Rio de Janeiro, na sede da Globo, pedir que a direção aceitasse a rescisão de contrato. Sílvio chegou a falar pessoalmente com Roberto Marinho, para que cedesse ao seu pedido, pois Sílvio dizia precisar de Gugu, tendo em vista as suspeitas (que depois não se confirmaram) de que um problema nas cordas vocais o obrigaria a sair da televisão.
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Eles de novo |
Com o assunto resolvido, Gugu estreou nas tardes de domingo, mas no SBT mesmo, apresentando o 'Passa ou Repassa' e o 'Cidade Contra Cidade' (uma reedição do programa que fez sucesso na década de 70). Além de dividir o palco com Sílvio no 'Roletrando'. Também seu 'Viva a Noite' passou por uma reformulação geral, assim como a sua conta bancária, que aumentou dez vezes mais.
Bem, na década de 90, entrei na adolescência, e curiosamente, comecei a me afastar da televisão. Até porque ela havia mudado bastante, alguns ídolos meus tinham morrido (Chacrinha, Flávio Cavalcanti), e boa parte da música brasileira que fazia sucesso também havia mudado. Em vez de bandas de rock - 'axé music', 'pagode', 'lambada', ' sertanejo' (que eu até que gostava), tomaram conta dos programas de TV e aberturas de novelas e isso começou a me incomodar.
Descobri a literatura, o cinema (e ironicamente, assiti a todos os clássicos do cinema na TV aberta da época, cuja programação de filmes era muito melhor do que, não só, a da TV aberta atual, como também da própria TV por assinatura atual). Desenvolvi um senso crítico muito grande com relação ao que via na televisão. No fundo não sei bem se foi a programação que piorou, ou eu fiquei mais exigente (talvez as duas coisas).
Tanto que das novelas de sucesso da época ('O Rei do Gado', 'Mulheres de Areia', 'Barriga de Aluguel', 'A Próxima Vítima', 'Por Amor', entre outras) não vi nenhuma. Lembro de ter assistido 'Vamp', de Antônio Calmon, por que era engraçada. 'Pantanal', o grande sucesso da Manchete, não me interessava nem um pouco. Chegou a tal ponto em que as únicas coisas que eu acompanhava era o 'Jô Soares Onze e Meia', e as sessões de cinema.
Aliás, lembrei-me agora de um dos poucos programas da TV aberta do qual virei fã nessa época, o humorístico 'Sai de Baixo'. Estreado em 1996, nas noites de domingo, depois do 'Fantástico'. Era feito no mesmo esquema do antigo 'Família Trapo', dos anos 60. Como uma peça de teatro, com plateia, o elenco contava com Luis Gustavo, Miguel Fallabella, Marisa Orth, Aracy Balabanian, Tom Cavalcanti e Claudia Jimenez, depois substituída pela maravilhosa Márcia Cabrita. Foi um grande sucesso que manteve-se na programação até 2002. E até hoje acompanho as reprises no Canal Viva.
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Sai de Baixo |
Também via muito os programas de Serginho Groisman, primeiro o 'Matéria Prima', na TV Cultura, depois o 'Programa Livre', no SBT, de 1991 a 2000. Serginho marcou época na TV, fazendo um programa dirigido a adolescentes mas sem ser 'alienado', ou 'alienante'. Pelo contrário, Groisman trazia assuntos que não só diziam respeito à faixa etária do público, mas também outros temas relevantes pra que eles se posicionassem. Política, cultura em geral, além das atrações musicais tocando ao vivo, conhecidos ou não, os programas de Serginho sempre tinham alguma coisa interessante pra mostrar, por isso eu ficava ligado neles diariamente.
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'Fala Garoto!' |
Em 2000, ele foi pra Globo, apresentar o 'Altas Horas', nos fins das noites de sábado. Aí, o programa já tinha um esquema um pouco diferente, mas não muito. Talvez pela necessidade de ter de segurar a audiência global, menos artistas desconhecidos eram convidados a aparecer, o que acabou me afastando como telespectador.
Outra coisa que mobilizou muito as opiniões nos anos 90, foi a briga aos domingos entre 'Domingo Legal' (Gugu Liberato), no SBT, e o 'Domingão do Faustão' (Fausto Silva), na Globo. Acompanhei essa disputa de longe, pois nenhum dos dois programas me interessava.
O que passou a me interessar mesmo foi a MTV Brasil, que entrara no ar em 1990, mas eu só consegui assitir no ano seguinte, porque instalaram uma antena parabólica em casa. Eu simplesmente adorava a MTV. Sempre me interessei por música,e pude acompanhar a ascenção de bandas como 'Nirvana', 'Pearl Jam' e outras. A linguagem da MTV era inovadora, despojada, apesar do pouco orçamento, esbanjava criatividade, e acabou influenciando as emissoras 'mais velhas', que mais tarde acabaram levando pra si alguns dos apresentadores, ou 'VJ's', como eram conhecidos. Entre eles: Gastão Moreira, Cuca, Astrid Fontenelle, Maria Paula, Cris Couto, Zeca Camargo, Marcos Mion, Edgard Picolli, Fábio Massari, Sabrina Parlatori, Cazé, João Gordo, e outros que agora não vem à memória.
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Os 'VJ's da MTV Brasil |
Gostava muito do 'CEP MTV', com Luis Thunderbird, que conseguia transformar um simples programa de pedidos de videoclips em um happening, que começou a receber convidados ilustres, do ilário 'Teleguiado', com Cazé, que fez tanto sucesso que até foi parar na Globo. O 'Clássicos MTV', o Lado B', os debates do 'Barraco MTV', o '15 Minutos', com o Marcelo Adnet, e o também o 'Comédia MTV', com Adnet, Dani Calabresa, Tatá Werneck, Bento Ribeiro, o genial 'Hermes e Renato'. Enfim, a MTV Brasil foi uma lufada de ar fresco no meio daquele vendaval de cafonice em que a televisão brasileira tinha se transformado.
Só comecei a fazer as pazes com a TV aberta no começo dos anos 2000, e muito por causa de dois programas em particular, o 'Pânico', da Rede TV!, e o 'Custe o Que Custar', da Bandeirantes. O 'Pânico' virou a televisão do avesso, com um humor anárquico, à beira da irresponsabilidade (e às vezes extrapolando esse limite), grande parte dele sem texto, baseado em improvisos, e no talento de humoristas como Wellington Muniz ('Ceará'), Rodrigo Scarpa (o 'Vesgo'), Marvio Lúcio ('Carioca'), Eduardo Sterbilich, Carlinhos Silva, Vinicius Vieira, Evandro Santo, Daniel Zuckerman, Fábio Rabin, e no carisma de Marcos Chiesa (o 'Bola'), e Sabrina Sato (que depois conseguiu até um programa próprio na Record), além do 'âncora' Emílio Surita, que eu já conhecia de inúmeros programas na Bandeirantes, nos anos 80.
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O 'Pânico' virou a TV do avesso |
O 'Panico' criou duplas icônicas como 'Repórter Vesgo e Sílvio', 'Amaury Dumbo' e 'Freddie Mercury Prateado'. Eu morria de rir com as maluquices que eles inventavam e o quanto importunavam 'celebridades' na entrada de festas pretensiosas em que a 'breguice' dava o tom. O 'Pânico' mostrou o quanto esse mundo dos 'famosos' era ridículo, por mais que alguns dos integrantes depois até acabassem fazendo parte dele.
Já o 'CQC', surgiu na Bandeirantes em 2008, era um programa de origem argentina, co-produzido pela produtora 'Cuatro Cabezas', daquele país. Apresentado por Marcelo Tas (de novo ele), e os comediantes Rafinha Bastos e Marco Luque, tinha uma equipe de repórteres que tratava com humor casos jornalísticos, problemas locais, corrupção, os assuntos do momento, sempre de uma forma incisiva e até mais interessante do que a dos telejornais convencionais. Entre seus repórteres estava, Danilo Gentili, Oscar Filho, Felipe Andreoli, Rafael Cortez, Warley Santana (que ficou pouco tempo), Monica Iozzi, Maurício Meirelles, entre outros. Ia ao ar toda segunda à noite, e desde a estreia virou programa obrigatório pra mim.
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'CQC' 1ª geração |
Pena que aos poucos foi se desgastando, principalmente depois que Rafinha Bastos foi afastado por conta de uma gag mal recebida envolvendo a cantora Vanessa Camargo. Em 2015, Tas saiu do 'CQC', sendo substituído pelo ator Dan Stulbach, outros repórteres também saíram (Danilo Gentili ganhou seu próprio programa), e aos poucos ficou claro que a emissora não tinha mais vontade de prosseguir com ele, talvez por causa da reação negativa de politicos, a Band tenha achado que não valia mais a pena comprar essa briga. No mesmo ano de 2015, o 'CQC' teve sua última edição.
Outra coisa que pegou neste início de século foram os reality-shows, e no Brasil não seria diferente. Quem introduziu esse tipo de atração no país foi a Globo com o 'No Limite', uma versão do gringo 'Survivor', competição ao ar livre em que, em meio a florestas, morros, praias, os participantes competiam entre si, realizando tarefas cheias de ação, ou outras, digamos, nojentas. Era apresentado por Zeca Camargo.
Mas quem marcou época nos realities foi ninguém menos do que Sílvio Santos e sua 'Casa dos Artistas'. Sim, eu confesso que assisti. E achava até bem divertido. O esquema era parecido com o do 'Big Brother' (ainda inédito por aqui), a única diferença era que ao invés de ter anônimos vivendo juntos numa casa, os participantes eram todos famosos. Dessa primeira edição fizeram parte: Bárbara Paz (a vencedora), Supla, Alexandre Frota, Mari Alexandre, Patricia Coelho, Mateus Carrieri, Taiguara Nazareth, Nana Gouveia, Núbia Óliver, Marco Mastronelli, Leandro Lehart e Alessandra Scatena.
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Sílvio e os moradores da 'Casa' |
Já na estreia, o programa venceu o 'Fantástico' em audiência, coisa que iria se repetir várias vezes. Boa parte do sucesso deveu-se à utilização eficientíssima de trilha sonora feita de canções de sucesso. Este trabalho estava a cargo da cantora Laura Finocchiaro. Em vários momentos o reality assemelhava-se a uma telenovela, por conta do inevitável envolvimento dos participantes. A 'Casa dos Artistas' teve mais 3 edições, mas a 1ª foi a única realmente relevante, apesar da 2ª ainda conseguir vencer a Globo esporadicamente.
A resposta da Globo veio no ano seguinte com a estreia do 'Big Brother Brasil', uma versão fiel, e autorizada, do programa criado na Holanda pela empresa 'Endemol', e que já vinha conquistando sucesso em vários países. Sua 1ª edição era apresentada por Pedro Bial e Marisa Orth, ficando Bial sozinho a partir da 2ª temporada, até o ano de 2016. Confesso que não simpatizei com nenhum dos participantes dessa 1ª edição, portanto só acompanhei quando estava perto do final, vencida pelo infame Kleber 'Bam Bam'.
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Bial: de jornalista a entertainer |
O programa fez tanto sucesso que depois de terminado em abril, a 2ª edição já veio no mês seguinte, em maio. E a esta eu assisti desde o começo, assim como a todas as outras até 2010, quando houve a décima edição, vencida pelo lutador Marcelo Dourado. Depois me desinteressei completamente. Mas o programa seguiu em frente, com sucesso, claro, até a mais recente, a 20ª, que conseguiu um recorde de votações por parte do público na final.
Outro fato importante no começo da década de 2000 foi a volta de Jô Soares à Globo. Depois de 11 anos no SBT, Jô voltava à sua antiga emissora, e fazendo aquilo que havia sido o motivo da sua saída de lá, o talk-show. Agora com mais recursos tecnológicos, e verba, além da emissora haver inaugurado um estúdio especialmente para ele, o 'Programa do Jô' tinha ao menos uma coisa melhor do que o 'Jô Soares Onze e Meia', Jô não teria mais restrições para entrevistar artistas da Globo.
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Jô de volta ao lar |
No mais, o programa continuava o mesmo, entrevistando não só artistas populares mas também politicos, escritores, anônimos com histórias interessantes, além de números musicais não apenas com quem fazia sucesso, mas também com artistas que não tinham acesso à grande mídia. Coisa que com o fim do programa, e aposentadoria de Jô, em 2016, fez abrir uma lacuna considerável na TV aberta.
Aliás, a TV aberta brasileira aos poucos, nestes últimos anos, tem se notabilizado por reproduzir fielmente franquias internacionais de sucesso, que quando chegam no país repetem a aceitação que tem pelo mundo, e acabaram se tornando as maiores audiências das emissoras brasileiras :'Big Brother Brasil', 'A Fazenda', 'Ídolos', 'The Voice', 'Masterchef', 'Dança dos Famosos', etc. Ou seja, a TV do Brasil virou uma mera administradora de franquias internacionais.
Também no início do novo século eu comecei a fazer as pazes com as novelas. Depois de praticamente ignorá-las na década de 90, voltei aos poucos a assistí-las. Lembro que acompanhei 'Terra Nostra' (Benedito Ruy Barbosa), 'Belissima' (Silvio de Abreu), 'Laços de Família' (Manoel Carlos), 'Força De Um Desejo' (maravilhosa novela de Gilberto Braga), 'América' e 'Caminho das Índias' (Glória Perez), 'Senhora do Destino' (Aguinaldo Silva), 'Celebridade' (Gilberto Braga). De 2010 pra cá, lembro de ter visto 'Avenida Brasil' (João Emanuel Carneiro), de 2012, a última novela que pode-se dizer que 'parou o Brasil' no último capítulo. Além de 'Eta Mundo Bom!' (Walcyr Carrasco), 'Lado a Lado' (João Ximenes Braga e Claudia Lage), 'Império' (Aguinaldo Silva), 'Passione' (Sílvio de Abreu), e a sensacional 'Novo Mundo' (Thereza Falcão e Alessandro Marson), uma obra-prima, cuja história se passa na época de D. Pedro I.
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A última novela a 'parar o Brasil' |
Mas também tive minhas decepções como: 'Amor à Vida' (Walcyr Carrasco), 'Babilônia' (Gilberto Braga), os remakes de 'Gabriela' (também Walcyr Carrasco) , 'Saramandaia', 'Guerra dos Sexos' e 'O Astro'. Difíceis também foram 'Salve Jorge' (Glória Perez), 'Órfãos da Terra' (Duca Rashid e Thelma Guedes), 'A Regra do Jogo' (João Emanuel Carneiro), 'O Outro Lado do Paraíso' e 'A Dona do Pedaço' (Carrasco, de novo).
Na verdade, nesta última década, tenho me interessado cada vez menos nas novelas atuais, e mais nas reprises do Canal Viva. Principalmente de novelas que eu não acompanhei na época como 'Dancin' Days' (Gilberto Braga), 'Pai Heroi' (Janete Clair), 'Baila Comigo (Manoel Carlos), 'Pedra Sobre Pedra' (Aguinaldo Silva), mas também para relembrar grandes sucessos que eu já vi: 'Roque Santeiro' (Dias Gomes e Aguinaldo Silva), 'Vale Tudo' (Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basseres), 'Brega & Chique' (Cassiano Gabus Mendes), 'Cambalacho' (Sílvio de Abreu), 'Tieta' (Aguinaldo Silva).
Bem, mas e agora, neste início da terceira década do século XXI, em que situação encontra-se a TV brasileira? Cada vez menos importante, e ao mesmo tempo, cada vez mais importante. Eu explico.
A TV aberta vem perdendo audiência gradativamente desde o advento da internet, e da incorporação dela na forma como consumimos entretenimento. Aliás, nestes 20 anos até mesmo a própria noção de entretenimento se modificou. Programas que não chegariam nem a ir ao ar em décadas passadas, hoje formam a base de programação de alguns canais fechados (construção de casas, dia a dia de estabelecimentos comerciais, culinária de todo tipo, etc.)
Se antigamente assistíamos à TV 'de graça', hoje é preciso assinar algum provedor de TV fechada, que nos fornece uma média de 500 canais, sendo que geralmente acabamos vendo apenas uns dez. Isso fez com que muitos cancelassem suas assinaturas. Isto é um dado. Outro, é que as próprias emissoras perceberam que o futuro delas está no streaming, o que possibilita que o espectador veja seus programas favoritos quando e onde quiser, anulando os intervalos comerciais e obrigando as emissoras a buscarem novas formas de comunicação entre anunciantes e o público.
O surgimento de plataformas como You Tube, Netflix, Amazon Prime, Disney+, e outras que virão, fez com que boa parte da audiência desistisse de acompanhar a programação brasileira. Existem jovens que hoje nem sabem o que é 'TV aberta'. Quem entendeu antes o significado de toda essa mudança e saiu na frente, marcando seu terreno nesse mercado virtual, foi a Globo, que não só disponibilza sua programação online, como criou uma plataforma, a 'Globoplay', para produção de conteúdo exclusivo, além de acesso a todos os canais da sua grade. Entre as concorrentes, a única que libera sua programação na íntegra, e ao vivo, em seu site é o SBT.
Ou seja, a TV pode ter perdido espectadores para a internet, mas a própria internet pode servir de ferramenta para trazer mais espectadores para assistir o que a TV produz.